Qual é a motivação profunda dessa vivência teológico-pastoral que continua inspirando a tanta gente, apesar do modelo de igreja e de sociedade vigentes?
Gustavo Gutiérrez - Tenho a impressão que isto se deve a vários fatores. A um estreito contato com a realidade e com as mudanças inevitáveis que nela acontecem. É uma reflexão sobre a fé que não pretende colocar-se em um ângulo morto da história para vê-la passar, colocando-se em uma neutralidade cômoda diante dos acontecimentos que golpeiam as pessoas. Mas, busca - com todas suas limitações e com o que ainda tem que fazer -, como o Verbo de Deus, segundo o evangelho de João, colocar sua tenda dentro da história, da vida cotidiana. Um segundo elemento: isso significa que é uma teologia fortemente marcada pela leitura da Bíblia, que nos revela um Deus da vida que rejeita a situação de morte prematura e injusta, significação última da pobreza. Morte física, prematura e injusta, é o que vemos, claramente, no mundo de hoje; morte cultural, também, na medida em que se discrimina a alguém por razões culturais, raciais ou por sua condição feminina. Tudo isso é a pobreza na Bíblia e, por isso, apresenta-se desse modo, desde o início, na Teologia da Libertação. Nessa perspectiva, apesar da dimensão econômica ser muito importante, é apenas uma das dimensões. É importante perceber a complexidade, ou, como dizem os economistas, a multidimensionalidade da pobreza.
Outros fatores contam muito: as opções feitas pela igreja latino-americana em Medellín, Puebla e Santo Domingo e também o testemunho - inclusive entregando sua própria vida - de numerosos cristãos, em seu esforço por reconhecer o rosto de Cristo no rosto dos maltratados e oprimidos.
Qual é a motivação profunda dessa vivência teológico-pastoral que continua inspirando a tanta gente, apesar do modelo de igreja e de sociedade vigentes?
ResponderEliminarGustavo Gutiérrez - Tenho a impressão que isto se deve a vários fatores. A um estreito contato com a realidade e com as mudanças inevitáveis que nela acontecem. É uma reflexão sobre a fé que não pretende colocar-se em um ângulo morto da história para vê-la passar, colocando-se em uma neutralidade cômoda diante dos acontecimentos que golpeiam as pessoas. Mas, busca - com todas suas limitações e com o que ainda tem que fazer -, como o Verbo de Deus, segundo o evangelho de João, colocar sua tenda dentro da história, da vida cotidiana.
Um segundo elemento: isso significa que é uma teologia fortemente marcada pela leitura da Bíblia, que nos revela um Deus da vida que rejeita a situação de morte prematura e injusta, significação última da pobreza. Morte física, prematura e injusta, é o que vemos, claramente, no mundo de hoje; morte cultural, também, na medida em que se discrimina a alguém por razões culturais, raciais ou por sua condição feminina. Tudo isso é a pobreza na Bíblia e, por isso, apresenta-se desse modo, desde o início, na Teologia da Libertação. Nessa perspectiva, apesar da dimensão econômica ser muito importante, é apenas uma das dimensões. É importante perceber a complexidade, ou, como dizem os economistas, a multidimensionalidade da pobreza.
Outros fatores contam muito: as opções feitas pela igreja latino-americana em Medellín, Puebla e Santo Domingo e também o testemunho - inclusive entregando sua própria vida - de numerosos cristãos, em seu esforço por reconhecer o rosto de Cristo no rosto dos maltratados e oprimidos.